Uma reflexão humanitária


Não seria hora de pararmos? Sim pararmos, frente a reflexão que esta pandemia proporciona? 

É fato que para toda ação pressupõe-se uma reação, assim é o que afirma a terceira lei de Newton. Contudo, não é apenas um princípio de ordem física, confinado ao plano material do universo. Nessa expressão descrita pelo grande físico, há uma ordem moral, confinada em seus princípios. Para tudo o que pensamos ou fazemos isso se aplica.
O ser humano no contexto global, tem se posicionado como um ser evoluído, a frente das outras espécies planetárias. De um ponto de vista mais sintético, isso pode ser uma verdade. Porém, ao nos depararmos com sua condução moral, isso muitas vezes não se aplica.
Há trinta, quarenta anos, vivíamos à sombra nebulosa das ameaças nucleares, frente a uma polarização mundial. Dominados pelos pesadelos de uma guerra fria a nos provocar, calafrios e imagens mentais assustadoras. Tínhamos então, um arsenal nuclear capaz de destruir a Terra quarenta vezes. Frente a tudo isso, seguimos como humanidade amedrontada. Onde o horizonte do futuro não passava de uma promessa obscura e enigmática. Felizmente um muro caiu, algumas divisões ruíram também, mas nem por isso a polarização foi descontinuada. Os seres humanos continuaram em uma posição ora de dominador, ora de dominado rebelado. Julgando que a ideia de igualdade seria uma máxima humanitária a ser atingida. Desconsiderando uma série de evoluções individuais, estas sendo legadas a um segundo plano. Não guardaram, não assimilaram a lei de causa e efeito. Esqueceram-se que a lição do medo, não serviu para trazer à tona a noção de respeito ao outro e ao seu espaço. Por vaidade e orgulho a cegueira seguiu dominante.
A pandemia e todas as mortes provocadas por ela, trazem uma reflexão de consequência, o efeito de um causa. E é nesse ponto que devemos focar. Confinados em nossos lares, os laços familiares se fortalecem, pelo menos assim deveria ser. E a extensão dos sentimentos gerados, deveriam propagar-se na mesma velocidade com que o vírus se dissemina. Antes de ser um agente vinculado há uma mortalidade, deveria ser encarado como um agente agregador. 
Longe de pensar em teorias conspirativas. Deveríamos esquecer governos, países, estados dominantes, leis de interesses corporativos, para dar vazão as nossas mais preciosas virtudes humanas e solidárias. Não deveríamos ser o povo de um país, de um deus, de uma ideologia ou segmento político. A grande meta nesse momento é encontrar no outro um reflexo de si mesmo, de uma humanidade carente e doente, necessitada de proximidade e encorajamento. O vírus é uma ínfima particular desprovida de uma complexidade maior. Mas, capaz de causar uma grande revolução humana, algo que sobrepõe o próprio tempo e as mais severas pandemias que assolaram o mundo.
Recursos intelectuais e tecnológicos não nos faltam, mas ainda são recursos sem significância se não aprimorarmos nossos recursos morais. É virtuoso termos compaixão e chorarmos pelos mortos, pelos doentes. No entanto, isso não basta. Precisamos entender, que tudo o que nos foi dado nesse momento é para nosso crescimento. Uma lição para nos tornarmos melhores. Mas não seremos melhores se não reconhecermos em cada indivíduo humano, um ser em igualdade de espécie, com diferenças particulares. Cada um em seu tempo, ocupando a carteira de ensino que mais lhe caiba. No final, deveríamos compreender e aceitar que tudo o que fazemos e desejamos ao outros, pode ser a causa de um efeito maior. Que nossa ação daqui para frente, seja repensada para o bem e colha a repercussão algo melhor.

Jefferson Kleber Forti, do Outono pandêmico de uma humanidade.
Belo Horizonte, 13 de maio de 2020

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